“MESTRA IMORTAL” Dinoélia Trindade

IOV  –  ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DE FOLCLORE E ARTES POPULARES
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Dionélia Trindade é de uma família de rendeiras em Saubara, recôncavo baiano. Borda a continuidade de uma tradição dos tempos da avó e da mãe, a renda de bilro. Abacaxi, cocadinha, não-me-deixe, mata-fome, coração, palma, ziguezague, trança, margarida, trocadinho, aranha e escadinha de Cupido são alguns dos afetivos nomes dos pontos. Sabe-se que desembarcou do lado de cá trazida por mulheres portuguesas e tornou-se tarefa das moças de fino trato nas fazendas no período colonial. Foi incorporada culturalmente e difundida nos nossos litorais e sertões, onde as mulheres teciam para distrair o espírito enquanto os maridos pescadores se lançavam ao mar. O zêlo e a ternura que elas devotam ao fazer, debruçadas sobre almofadas, é notado no gesto miúdo de “agasalhar” a renda com um pano quando interrompem o tecer. Finalizada, é gentilmente reservada para permanecer impecável.
Para tecer, são necessários almofada (acomodadas em uma espécie de cavalete e forradas com chita), bilros, desenhos, alfinetes (adaptados a espinhos de mandacaru), linha e muita paciência. Ânimo e mansidão. Virtudes escassas em tempos modernos. O primeiro passo é enovelar os fios na haste dos bilros. O papelão com o desenho é fincado sobre a almofada. Dá-se início a complexa etapa de tessitura. O número de bilros varia mas apenas quatro são usados simultaneamente. O ameaçado ofício se perpetua pelas mãos insistentes dessas mulheres que, mesmo com adversidades, perseveram. Uma luta árdua como o próprio feitio da renda.
“É como a trama da renda da terra,
Que a rendeira rebate e retorce e
pontilha os espinhos,
Na ânsia de endurecer a graça
petulante de uma traça,
no afã de alinhar mais o trocado
do ponto de filó,
e sai tão fina, tão delicada,
tão perfeita,
que vocês, meus irmãos do Sul,
mandam buscá-la aqui, na
barraquinha anônima das várzeas,
para ostentá-la, depois,
no meio do seu luxo…
(Renda da terra – Rachel de Queiroz)
Quem cria?             
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Para Dionélia, o ofício veio através da mãe, grande rendeira que criou os filhos e viajou para vários países através da arte, que aprendeu com a avó. Sua tia faz parte da Associação de Artesãs de Saubara. Tudo que Dionélia testemunhou despertou a teimosia em perseverar nessa arte. Adolescente, mudou-se para Salvador, depois Dias d’Ávila, o que a distanciou da renda mas fortaleceu o desejo em aprofundar seu conhecimento, investir e manter viva a herança da família. Voltou a assumir o ofício da renda na nova localidade e liderar sua transmissão e multiplicação na comunidade. 
Dionélia é hoje instrutora no SESC, em Salvador, onde dá aulas e outras formações. Participa de feiras nacionais e internacionais, expôs em Paris pela rede da Economia Solidaria, participa da Fenneart, considerada a maior feira de artesanato da América Latina, e muitos eventos no Brasil. Em 2018, o governo do estado, através do PAB (Programa do Artesanato Brasileiro) conferiu a ela o titulo de mestra artesã, reconhecendo a atividade de grande relevância pra sua comunidade, para o Brasil e o mundo. A renda lhe trouxe reconhecimento e respeito, mas também a garantia da sustentabilidade financeira da família, algo improvável para um artista popular no Brasil. Movida pelo desejo de preservar a tradição da família, Dionélia sabe, especialmente, da importância de salvaguardar essa técnica secular.
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Dionélia é nascida em Saubara, terra de praias, falésias, manguezais, rios e cascatas, legado da Mata Atlântica. Mas foi na capital do estado, Salvador, que ela passou a fazer parte do movimento de economia solidária, expor produtos em eventos e participar de processos de capacitação. Em 2004, muda-se para Dias D‘Ávila, região metropolitana de Salvador onde a chegada do Pólo Industrial de Camaçari em 1978 alterou as característica do local que passou a servir como cidade dormitório, habitada por uma grande massa de trabalhadores. A cidade tinha índices de violência muito altos e muitas mulheres negras fora do mercado de trabalho. Dionélia se deu conta da responsabilidade em transmitir seu valioso saber para aquela comunidade. Observou que as pessoas sabiam produzir trabalhos de todo tipo mas não sabiam se organizar, difundir e escoar seus produtos. Criou a Associação Rendavam, com dois objetivos principais: capacitação e formalização. Buscaram parceria com a Economia Solidária, Instituto Mauá, Sebrae, CETRI e adquiram capacitação, alguns equipamentos e passaram a participar de editais. Em um deles foram aprovados. Sem outra orientação ou segmento profissional, as pessoas foram capacitadas como instrutoras para multiplicarem os conhecimentos adquiridos e ensinarem através do projeto Associação Nosso Bordado. Hoje atuam com a renda de bilro e mais tipologias, e ensinam gratuitamente o fazer da renda. Há pouco incluiram o curso de renda de bilro no programa de duas escolas municipais. Um feito histórico. 
Seus planos de futuro são, alguns grandiosos, outros bastante modestos para uma mestra de ofício: aumentar a capacitação, a produção, implementar uma escola de renda na comunidade e criar o museu da renda em Dias d’Ávila.
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-1° mestra em renda de bilro do estado da Bahia, reconhecida pelo PAB – Programa do artesanato brasileiro;
-1°lugar no prêmio servidor cidadão 2018.
-Prêmio BNDES de boas práticas em economia solidária 2015
-Fundadora da Associação das Rendeiras de Dias D’Ávila – 2009;
-Presidente da Associação das Rendeiras da Varginha (RENDAVAN)- 2011 a 2021;
-Membro da comissão do COMCER ,selo de certificação do artesanato da Bahia 2020.
-Instrutora de renda de bilro na Associação Rendavan-Conselheira do Conselho da Criança e do Adolescente (CMDCA) e do Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS);
-Orientadora de criança e adolescente Setre Bahia 1983 a 2014;
 -Exposição de renda de bilro em Grand Lyon Paris – França, Dialogues en humanite 2013;
-Membro do comitê de bacias hidrográficas recôncavo norte iambute 2016;
– Homenageada na revista Ômi Rendeiro – Bélgica, edição 2020
– Criação de arte de renda de bilro para L’OCCITANE AU BRASIL 2013
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-Exposição no centro de referência do artesanato brasileiro, A potência do objeto- Rio De janeiro,2013
-Participação no livro Iconografia pelo olhar artesanal, SEBRAE 2018;
– Participação da 1° à 10° rodada de negócios de artesanato SEBRAE Bahia
 – Participação selo de artesanato “A Bahia feita a mão” Ibametro / Mauá 2013;
-Participação 18° Fearte Pernambuco;
-Participação no 13° salão de artesanato Ibirapuera São Paulo 2019;
-Formação para  liderar Sebrae- Bahia 2010;
-1°seminário de sistema nacional justo e solidário do estado da Bahia 2012;
-8° feira de economia solidária Mercosul -2012,Santa Maria;
-Exposição de renda de bilro galeria mestre Abdias Mauá Pelourinho salvador
-Exposição de renda de bilro no lV seminário de graduação da UFRB
 -Formação para edital da secretaria de políticas públicas para mulheres – SPM;
-Instrutora de renda de bilro no Centro de formação artesanal, Sesc Bahia – 2015 a 2019
-Instrutora de renda de bilro na Cidade do Saber – Camaçari, Bahia
-Instrutora de renda de bilro do grupo selecionado para apresentação nas Olimpíadas – 2016;
-Instrutora de renda de bilro nas escolas municipais de Dias D’Ávila -Bahia, de 2018 a 2019;
https://destaque1.com/dinoelia-trindade-primeira-mestra-de-bilro-da-bahia-recebe-certificado-iov-brasil-unesco/

 

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Aos vinte e três dias do mês de fevereiro do ano de dois mil e vinte, às oito horas, na Cidade de Nova Petrópolis no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, ocorreu uma Assembleia Geral, com o objetivo de promover todas as formas de arte popular e cultura folclórica como elementos do Patrimônio Cultural Imaterial (ICH), para promover a compreensão e apreciação da diversidade cultural entre todos os povos e, assim, aumentar as perspectivas para a paz mundial.

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