Presidente de Honra (In Memoriam)

IOV  –  ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DE FOLCLORE E ARTES POPULARES

 

HOMENAGEM

 

Presidente de Honra     (In memoriam)

 

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No dia Internacional do Folclore, 22 de agosto de 2020 a IOV Secção Brasil, outorga à ilustríssima senhora Maria José Colares de Araújo Moreira, o título de “Presidente de Honra In Memorian.”  A cerimônia ocorre por meio de plataforma online, com a participação virtual dos membros filiados e autoridades  convidadas da IOV Secção Brasil e de outras instituições.

Este título é o reconhecimento da IOV Brasil sobre uma trajetória de vida galgada em relevantes serviços prestados à Organização, participando de sua fundação e contribuindo para a história da IOV World.

– Zezé Colares  foi vice-presidente da Organização Internacional de Folclore International Organization of Folk Art – IOV), com sede na Áustria em 1980.

Atuou como folclorista, professora de piano e de história da música.

– Dedicou toda sua vida à produção de conhecimento sobre o Folclore brasileiro.

– Seus estudos e pesquisas contribuíram de forma ampla para a criação do seu Grupo Folclórico BANZÉ, em 1968, enquanto lecionava no Conservatório Lorenzo Fernandez. Organizou, com seus alunos do Conservatório, trabalho de pesquisa de danças e músicas folclóricas, transformando-as em espetáculos.

– Sua luta pelo movimento de valorização e divulgação da cultura popular brasileira era a sua maior bandeira.

– Foi presidente da Comissão de Folclore Hermes de Paula; Sócia Honorária da Academia Montesclarense de Letras; participou de conferências no Brasil e no Exterior e publicou o livro ‘A criança e o folclore’.

– Em 1989, ela foi premiada pela Direção de Grupo Folclórico no Congresso Internacional de Folclore, durante as comemorações do Bicentenário da Revolução Francesa, na cidade de Chateneuf de Faou / França.

 

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  • Zezé Colares foi quem trouxe a IOV para o Brasil. 
  • Deixa seu legado dedicação e amor  ao folclore. Seu trabalho vai ficar para sempre na história e memória da IOV  mundial e em especial do Brasil.
  • Em memória à professora Maria José Colares de Araújo Moreira (Zezé Colares), por toda sua história de prestação de relevantes serviços, a IOV Brasil outorga-lhe o título de Presidente de Honra In Memorian da IOV Secção Brasil.

 

São Paulo, 22 de agosto de 2020

 

 

 

BIOGRAFIA:

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Maria José Colares de Araujo Moreira (Montes Claros, 24 de março de 1931 – Montes Claros, 02 de março de 2020), mais conhecida como Zezé Colares, foi uma folclorista, pesquisadora, museóloga, escritora, professora de piano, história da música, folclore e danças populares brasileiras, produtora rural, empresária, filantrópica e produtora cultural brasileira.

Fundadora do Grupo Folclórico Banzé e do Festival Internacional de Folclore de Minas Gerais, coautora das obras A Criança e o Folclore, Montes Claros de Ontem e de Hoje e Folclore para Crianças; idealizadora do Banzé Museu do Folclore e Centro de Tradições Mineiras UNIMONTES e de três álbuns musicais junto ao Grupo Folclórico Banzé, foi preeminente defensora e difusora do folclore e das culturas populares brasileiras, em especial do Norte de Minas Gerais.

Foi Vice-Presidente Mundial da Organização Internacional de Folclore e Artes Populares – IOV com sede na Áustria (1980-1990); foi Delegada Estadual (1992-2007) e Presidente de Honra do Conselho Internacional de Festivais Folclóricos e Artes Tradicionais – CIOFF Brasil; foi Presidente da Comissão Municipal de Folclore Hermes de Paula em Montes Claros; foi membro da Comissão Mineira de Folclore, Presidente da Cruz Vermelha de Montes Claros, Sócia Honorária da Academia Montesclarense de Letras, Professora do Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandez e Diretora do Banzé Museu do Folclore e Centro de Tradições Mineiras UNIMONTES.

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Maria José Colares nasceu no dia 24 de março de 1931 na cidade de Montes Claros no Norte de Minas Gerais, segunda filha do casal Casemiro Colares e Maria de Lourdes Narciso Colares. Seu pai, natural de Grão Mogol, trabalhou nas Minas de Passagem Mariana e se mudou para Montes Claros, onde adquiriu muitas terras se destacando na criação de gado da raça Indubrasil e Nelore, jumento Pêga e cavalos Mangalarga Marchador. Fundou a fazenda Santa Helena e a linhagem Catuni em Francisco Sá, sendo uma das mais tradicionais linhagens de cavalos Mangalarga Marchador de Minas Gerais e, posteriormente, herdadas por Zezé Colares e seu marido João Carlos Penna de Araújo Moreira.

Zezé nasceu dentro de uma família de classe média alta, teve dois irmãos, Antônio Felicíssimo Colares, mais conhecido como Diu Colares, e Carlos Colares, ambos in memorian. Passou sua infância nesta cidade e na Fazenda Santa Helena onde teve contato desde cedo com as manifestações populares do povo norte mineiro e a vida simples do campo. Iniciou seus estudos quando criança no Colégio Imaculada Conceição e posteriormente fez o primário no Instituto Dom Bosco, ambos em Montes Claros. Era uma menina alegre, sonhadora, apaixonada pela música e pela dança e desde cedo mostrava seus dotes artísticos apresentando-se em performances improvisadas no quintal de sua casa.

“Voltamos à pequena Zezé, alegre, comunicativa, participava ativamente de todas as travessuras infantis: chegava um circo na cidade – logo tínhamos um no quintal da sua casa – Que beleza de espetáculo – Ingresso: palito de fósforo e muitos aplausos para a trapezista e bailarina: Zezé.” – Terezita Dias de Figueiredo Braga, Montes Claros, 08 de março de 1995.

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Diferente de seu pai, sua mãe, embora filha de uma tradicional família de Montes Claros, era uma mulher simples e retraída que preferia ficar em casa nos afazeres domésticos e tocar violão para a família nas horas vagas. Nozinho Colares, como era conhecido o seu pai, era um grande entusiasta e admirador das culturas populares, manteve em sua fazenda a tradição de levantamento de mastro de São João no mês de Julho, que se manteve até os dias de hoje com ladainhas, cantos e fogueiras e sempre apoiava as Festas de Agosto de Montes Claros, colocando Zezé e seu irmão Diu como imperatriz e imperador do Divino, ainda crianças. Fato que foi de suma importância para acender a chama da paixão dela pelo folclore.

Zezé puxou o dinamismo e o espírito inovador do seu pai. Conhecida pelo seu temperamento forte e sua determinação, desde jovem, ela se posicionava com pensamentos diferenciados e atitudes ousadas para as moças daquela época. Na adolescência foi aluna interna em Belo Horizonte e Araxá, gostava de jogar vôlei e sempre viveu rodeada de amigos, promovendo momentos artísticos e musicais entre eles.

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“Musica – música – música, a verdadeira paixão da menina, da moça, da senhora e da grande educadora. Em uma de suas férias, ela dançou para nós, suas amigas, “A Dança Ritual do Fogo” mostrando com arte e beleza o ideal de uma grande bailarina – Na beleza de seus passos, na agilidade de seus movimentos e na suavidade da música, a certeza do nascimento da grande mestra: Zezé.”(…) “Declamava, cantava e dançava embalada pela luz prateada do luar, aplaudida por todos, em suave encantamento. Era assim Zezé, artista de todos momentos e circunstâncias”. – Terezita Dias de Figueiredo Braga, Montes Claros, 08 de março de 1995.

Em 1947, Zezé conheceu Marina Helena Lorenzo Fernândez Silva, filha do compositor carioca Oscar Lorenzo Fernândez, que acabava de se mudar para Montes Claros acompanhando o seu marido logo após o matrimônio. Marina foi uma das maiores influências artísticas na vida de Zezé e sua grande incentivadora. Encantada pelo potencial artístico e riqueza cultural do povo montesclarense, Marina Lorenzo fundou uma escola de música para desenvolver o talento e gosto dessa sociedade pelas artes e música erudita. Colares foi uma de suas primeiras alunas e, posteriormente, se tornou sua grande amiga.

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Dona de uma beleza singular e um estilo exuberante, Zezé estava sempre nas colunas sociais e listas das mais elegantes do Norte de Minas. Junto com outras damas, ela movimentava os bailes do Clube Montes Claros e apoiou o desenvolvimento de uma sociedade bem estabelecida e atrativa na cidade que, até hoje, é referência para todo o norte de Minas, sul da Bahia e Vale do Jequitinhonha e Mucuri. Dentre seus atos pioneiros e marcantes para a valorização das mulheres nortemineiras, está o fato de ter sido uma das primeiras mulheres a dirigir um automóvel em toda a região norte do estado.

Colares chamava a atenção pelo seu estilo e pela sua forte personalidade. Nos jornais locais era sempre comparada às estrelas de Hollywood e às referências femininas da história. Seu sorriso largo e seus longos cabelos negros eram marcas registradas de sua identidade. Em uma ocasião, quando ainda estudava no Colégio Sagrado Coração de Maria, em Belo Horizonte, as freiras tentaram cortar o seu cabelo como parte da padronização do estilo das moças internas do colégio. Zezé se recusou a se encaixar no padrão imposto e resistiu até o fim, determinada a não deixar que as freiras acabassem com as suas madeixas. O acontecimento foi tão absurdo na época, aos olhos da diretora do colégio, que seu pai foi convocado a comparecer a Belo Horizonte para resolver a situação. No local, Nozinho Colares, afirmou em alto e bom som que ninguém encostaria no cabelo de Zezé, a não ser que ela quisesse. E assim, ela foi a única de todo o internato que mantinha os cabelos longos.

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“Não trocaria nada neste mundo pela minha liberdade. Poder falar, expor minhas ideias sem medo e fazer o que desejo é uma das coisas mais importantes para mim” – Maria José Colares de Araújo Moreira (Zezé Colares).

Mas, era na fazenda, no meio dos foliões e das manifestações populares que ela se sentia realmente completa. Todos os anos ela presenciava os desfiles dos Catopês, Marujos e Caboclinhos nas Festas de Agosto de Montes Claros, movimentava grupos para ajudarem na organização e arrecadação de fundos para o evento.

Em 18 de Julho de 1953, Maria José Colares de Araújo Moreira casou-se com João Carlos Pena de Araújo Moreira na Igreja Nossa Senhora da Conceição e São José em Montes Claros. Desta união, nasceram Danilo Colares de Araújo Moreira, Dario Colares de Araújo Moreira, Dalton Colares de Araújo Moreira, Dirceu Colares de Araújo Moreira e João Carlos de Araújo Moreira Filho.

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“Constituiu o maior acontecimento social desta cidade, o enlace matrimonial do jovem João Carlos Pena de Araújo Moreira, filho do estimado gerente do Banco Hipotecário desta cidade, Sr. Mauro de Araújo Moreira, com a distinta senhorinha Maria José Colares, um dos mais destacados elementos da nossa elite social e filha da exma. Sra. D. Maria de Lourdes e do Sr. Casemiro Colares.” – Jornal de Montes Claros, Julho de 1953.

João Carlos Moreira era engenheiro agrônomo e filho do bancário, produtor rural e escritor Mauro Moreira, autor das obras “Quarenta Anos de Sertão” e “Cinquenta Anos de Sertão”. Junto à Zezé, deram continuidade ao legado rural de seus pais e constituíram uma das mais importantes e admiradas famílias do Norte de Minas. Colares foi uma mãe dedicada e amorosa, se preocupava com a educação e desenvolvimento dos seus filhos. Com pulso firme e muito amor, ela manteve sua família sempre unida e baseada nos ideais de respeito, honestidade e trabalho.

 

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“Sinto que a coisa mais importante da minha vida é o meu lar. Aqui entre estas quatro paredes está o meu mundo. Mundo de alegrias e tristezas também. Não deveria existir este sentimento nos lares, mas penso que entre o sofrimento e a alegria a distância é muito pequena. Mas, felizmente, a alegria é que nos acompanha sempre. Está na compreensão do marido, nas ‘pintações’ dos meninos e sobretudo nos sorrisos maravilhosos destas crianças. (…) É por isto que sinto esta vontade de estar sempre aqui, ao lado deles, orientando-os, ensinando-os, porque daqui do meu lar é que eles aprenderão a enfrentar a vida e aceitar os homens como eles são!” – Maria José Colares de Araújo Moreira (Zezé Colares).

Mas Zezé não se limitou apenas a cuidar da família e apoiar seu marido nos empreendimentos rurais. Seu amor pelas artes e pela cultura juntou-se à sua energia produtiva e a vontade de ter o seu próprio espaço. Incentivada pela sua amiga e professora, Marina Lorenzo Fernândez, Colares aprofundou seus estudos sobre música e cultura popular e começou a dar aula de piano e história da música na sua escola que, com grande apoio de Zezé e outras senhoras da sociedade, em 1961 se tornou o Conservatório Municipal de Música Lorenzo Fernândez e, em 1962, foi estadualizado.  

Maria José Colares, a então professora de piano, história da música e folclore do Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernândez, formou-se em Harmonia e Morfologia, Acústica e Biologia Aplicada, Educação Musical, Folclore Musical, História da Música, Piano e Acompanhamento, Pedagogia Aplicada à Música, Teoria, Ditado e Solfejo pelo Conservatório Brasileiro de Música no Rio de Janeiro, em 1968. Fez curso de piano com o Maestro Vinícius Mancini;em 1969 ela fez História e Analítica Musical com o Maestro Gerge Marizzi, em Belo Horizonte; em 1973 fez Fundamento de Estética com o professor Moacyr Laterzza e Interpretação Pianística, com Jacques Klein em 1974.

Influenciada pela energia artística carioca e dinamismo de Marina Lorenzo Fernandez, no dia 20 de Maio de 1968, fundou a Bandinha da Zezé que, posteriormente, viria a ser Banzé, para ilustrar as suas aulas de folclore junto com seus alunos do Conservatório. Colares tinha em sala uma turma de jovens artistas cheios de energia e em busca de novos horizontes. Dentre eles, se destacavam as irmãs Irene e Antonieta Silva, filhas de Marina Lorenzo. Juntas elas movimentaram o circuito jovem da cidade em busca de rapazes para fazerem parte de um grupo de danças, que seria o primeiro grupo musical composto por homens e mulheres de todo o Norte de Minas. Em um momento em que a cultura europeia e norte americana instalava-se dentre os jovens da época, principalmente pelos grandes sucessos dos The Beatles e outros rocks estrangeiros, Zezé colocou seus alunos para pesquisar a música e a dança regional e com muito trabalho de campo e criatividade musical, surgiu o Grupo Banzé que se apresentou pela primeira vez em um sala do próprio Conservatório Estadual de Musica Lorenzo Fernândez, em 1968.

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Desde o seu nascimento, o Banzé chamou a atenção do público e dos críticos de arte. Apresentou-se no Palácio das Artes em Belo Horizonte e começou a ganhar as estradas do Brasil levando o folclore do Norte de Minas para os palcos de diversos estados brasileiros.

Foi então que Zezé Colares migrou das colunas sociais e dos holofotes de uma elite glamorosa, para mergulhar de vez nas pesquisas de campo e no mundo do folclore brasileiro. Rodou fazendas do Norte de Minas e explorou as mais diversas manifestações nos terreiros e festas populares, traduzindo estas expressões em belas coreografias que exaltavam a diversidade do povo e suas raízes verdadeiras através do Grupo Banzé. Dentre suas primeiras pesquisas estão as Danças de São Gonçalo, Pastorinhas, Catopês, Folias de Reis, Aboios, Lundus, Guaianos, Dança do Carneiro, Serestas, Quadrilhas, Congadas, Marujadas, Umbanda e Candomblé.

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“Certo dia, Zezé com a sua costumeira ‘autoridade’ ordenou-me que nós duas fossemos à Brasília de Minas, pois ela gostaria de conhecer e aprender com João Colete a dança de São Gonçalo. Ele comandava um grupo que cantava e dançava em honra ao santo de sua devoção. João Colete esperava a nossa chegada. (…) Zezé atenta a tudo, de gravador e máquina fotográfica em mãos, não perdeu um só movimento, um só detalhe da letra e da dança. Voltamos para casa, ela feliz com a realização de sua pesquisa, depois de ‘comermos’ muita poeira da estrada.” – Maria Câmara, Agosto de 2020.

Maria José Colares fazia parte de uma elite católica e tradicional de Minas Gerais, porém suas crenças, ideais e sabedoria extrapolavam os limites do conservadorismo. A folclorista foi reconhecida por quebrar paradigmas e tabus e difundir o respeito à diversidade religiosa e cultural. Durante suas pesquisas, Zezé levou seus jovens alunos para frequentarem terreiros de Umbanda e Candomblé para aprenderem sobre os cultos de matriz africana e as influências desta cultura.

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Em 1970 o Banzé apresentava nos palcos do antigo Cine Montes Claros e do católico e tradicional Colégio Marista São José a dança Macumba, que continha os resultados destas pesquisas ao culto dos orixás e caboclos de forma bastante expressiva e realística deixando a plateia impressionada e, ao mesmo tempo, encantada. A atitude repercutiu na sociedade e incentivou outras iniciativas e interesses nas manifestações.

Em 1974, Zezé lançava o seu primeiro livro junto com o jornalista e escritor Fernando Rubinger, “A Criança e o Folclore”. Uma obra totalmente voltada para o público infantil contendo lendas do sertão norte mineiro, brincadeiras, adivinhações, trava-línguas, provérbios e expressões populares, simpatias e outros conhecimentos tradicionais do povo.

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“Registrando e colhendo nas próprias fontes, lendas costumes e cantigas populares de Minas Gerais, Zezé Colares e Fernando Rubinger escreveram pois, um livro que alcança finalidade patriótica, uma vez que desde cedo ensina à criança aquele “primeiro passo” tão importante. E eles fizeram isso com amor, autoridade e perfeito conhecimento do assunto” – Lúcia Machado de Almeida, 1974.

Em 1977 o Banzé lançou o seu primeiro álbum, um LP chamado Grupo Folclórico Banzé, gravado pelo estúdio Bemol em Belo Horizonte, sob a direção de Zezé Colares, que enviou uma carta com um exemplar do disco para Carlos Drummond de Andrade que, por sua vez, em homenagem a esse trabalho, publicou uma crônica no Jornal Estado de Minas chamada: “Dia de Ganhar Presente”.

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(…)“É um trabalho lindo, esse a que se dedica o chamado Grupo Banzé, Grupo que, nos intervalos das pesquisas, faz o que todo bom montes-clarense gosta de fazer, em noites de lua: serenata. Vozes, violas, violões, flautas e rabecas, em comunhão salvam do esquecimento a tradição religiosa e profana dos cantos populares, que de outro modo desapareceria sob as pressões do desenvolvimento industrial, que vai fazendo de Montes Claros uma outra cidade.” – Carlos Drummond de Andrade, julho de 1977.

Além das pesquisas de campo e experiências nas mais diversas manifestações populares, ela se dedicou aos estudos teóricos e conceituais do folclore no Departamento de Turismo do Distrito Federal, em 1979, e em Belo Horizonte, com a professora Conceição Resende e o Mestre Saul Martins na Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Este último publicou uma obra dedicada à ela, o livro “Folclore: Teoria e Método”, que foi também financiado por Colares enquanto membro da Comissão Mineira de Folclore.

Junto a outros estudiosos e pesquisadores da cultura popular, Zezé fundou e presidiu a comissão municipal de folclore de Montes Claros que leva o nome de seu grande amigo, médico e folclorista montesclarense, Hermes de Paula, autor da obra “Montes Claros, sua história, sua gente e seus costumes”. A criação desta instituição foi de extrema importância para incentivar outras iniciativas de preservação e pesquisa do folclore do Norte de Minas.

A casa de Zezé e João Carlos, na rua Camilo Prates, no centro de Montes Claros, era um caldeirão cultural e intelectual nos anos 60 e 70. Além dos ensaios do Grupo Banzé que, vez ou outra, aconteciam em sua garagem, o casal recebia muitos artistas, historiadores, políticos, escritores e intelectuais para hospedarem-se na sua residência durante estadias na região, pela falta de hotéis de alto nível na cidade. Dentre eles destacam-se Inimá de Paula, Carlos Alberto de Nobrega, Ronald Golias, Fernando Gabeira, Jaques Klein e o ex-presidente da república José Sarney de Araújo Costa.

No dia 04 de dezembro de 1978, uma carta sai da Áustria em direção ao Conservatório de Música Lorenzo Fernandez para as mãos de Maria José Colares Moreira. Um grupo de folcloristas austríacos estavam prestes a fundar o que viria a ser uma das maiores organizações de folclore e artes populares no mundo. Pelo reconhecido trabalho com o Grupo Banzé, Colares foi convidada pelo Ministério das Relações Exteriores para representar o Brasil em uma reunião em Modling, Austria, para a fundação da Internationale Organisation Für Volkskunst – IOV.

O casal Colares Moreira embarcou para Viena em 1980 para fazer parte da primeira reunião de trabalho da IOV, que seria a porta de entrada de Zezé e o Banzé em territórios estrangeiros e a construção de um legado de preservação e divulgação do folclore brasileiro em intercâmbio com diversos países do mundo. Após dias de imersão em reuniões para discutirem estratégias de atuação e desenvolvimento de propostas de preservação do patrimônio imaterial de seus países, Zezé Colares foi eleita Vice-Presidente mundial da IOV, representando todo o continente americano.

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Colares retorna ao Brasil trazendo consigo o convite da primeira turnê do Grupo Banzé pela Europa que aconteceria no ano seguinte e o cadastro do Banzé como o primeiro grupo brasileiro a ser filiado à IOV e um dos primeiros grupos mundiais a fazerem parte desta organização.

Embora o Banzé já tivesse 12 anos de história, o desafio de se apresentar para um público estrangeiro era grande e totalmente diferente de tudo o que o grupo já tinha vivido. Com sua visão inovadora e sagacidade, Zezé Colares foi a Belo Horizonte estudar mais sobre as danças afro-brasileiras com a mestra Marlene Silva. Deste rico aprendizado, Zezé incluiu no repertório do Banzé ritmos de Maculelê, Samba e uma repaginada na coreografia da dança “Macumba” que continha as representações da Umbanda e do Candomblé.

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Em agosto de 1981, Colares sai com o Banzé em turnê pela Áustria, Bélgica e França levando consigo Marina Helena Lorenzo Fernandez Silva, Antonieta Silva e Silvério e Magdeleine Oliffson como parte de sua diretoria. Com isto, o Banzé foi o primeiro grupo de danças folclóricas de Minas Gerais a se apresentar no exterior e as tradições do povo simples do sertão norte mineiro ganhou admiração e respeito internacional. Neste mesmo ano o grupo lança o seu segundo disco fazendo parte da coletânea “Canto Brasileiro”, pela gravadora Clack em São Paulo.

Desde então, o Banzé visitou mais de 20 países pela direção de Zezé Colares, que teve por muitos anos o apoio de outras mulheres fortes e dedicadas como, Magdeleine Oliffson, Dalva Siqueira Rocha, Terezinha Wanderlay e Antonieta Silva e Silvério. Antonieta foi o seu braço direito por muitos anos desde o nascimento do Grupo Banzé e grande responsável pela qualidade dos arranjos e composições das músicas do grupo, formando-se mais tarde como maestra e regente de outras bandas e orquestras da cidade.

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Em 1984 Colares recebe o convite para participar de festivais internacionais de folclore nos Estados Unidos da América com o Grupo Banzé. Sem pensar duas vezes, ela encaminha uma carta para a Walt Disney Company apresentando o seu grupo e oferecendo para se apresentar no complexo do maior e mais famoso parque temático do mundo. Foi então, o Grupo Banzé de Montes Claros, sob a direção da sonhadora e admirável Maria José Colares Moreira, o primeiro grupo brasileiro a apresentar-se no Epcot Center da Walt Disney World Resorts.

Outro destaque na história do Banzé e de Zezé foi em 1989, em um concurso durante o Festival Internacional de Châteauneuf-du-Faou, França, em comemoração ao bicentenário da Revolução Francesa, em que Zezé traz para casa os três primeiros lugares sendo eles: melhor grupo, melhor coreografia e melhor direção. Em entrevista para o Jornal Estado de Minas, Zezé Colares afirma que foi esta a primeira e última vez em que o Banzé participaria de um concurso pois, no seu entendimento, não há como comparar culturas diferentes e muito menos escolher uma melhor entre elas.

Colares passou dez anos como vice-presidente mundial da IOV identificando e registrando outros grupos folclóricos em todo o continente. Promoveu a interação destes grupos com esta organização internacional possibilitando as suas participações em festivais de folclore no mundo todo e trazendo grupos estrangeiros para apresentarem-se em festivais no Brasil e outros países da América do Sul.

Durante o seu trabalho frente a esta organização e envolvimento em diversos festivais internacionais de folclore, Zezé conhece a Sra. Luiza Maciel, presidente da delegação brasileira do Comitê Internacional de Organizações de Festivais Folclóricos CIOFF, em 1992. Com a benção internacional da IOV, Colares inicia um trabalho em conjunto com a Sra. Maciel e se torna a delegada estadual do CIOFF em Minas Gerais. Durante mais de dez anos, essas duas damas promoveram um rico intercâmbio cultural e econômico em diversas cidades brasileiras e enviaram diversos grupos nacionais para experiências em terras estrangeiras. Elas apoiaram inúmeras iniciativas de preservação e divulgação do folclore e uniram duas grandes organizações internacionais em uma causa comum: o fortalecimento das tradições populares e identidade verdadeira do povo brasileiro.

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A história do trabalho de Zezé e do Grupo Banzé foi materializada em 1993, quando Zezé Colares consegue uma parceria com a Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES, e inaugura o Banzé Museu do Folclore e Centro de Tradições Mineiras UNIMONTES.  Um prédio no bairro São José em Montes Claros guardava todo o acervo do grupo e os materiais recolhidos durante suas pesquisas. Arte, música, história, artesanato e outros, era um espaço rico de conhecimento e trazia em seu conteúdo a identidade do povo norte mineiro e seus costumes. Foi durante muitos anos o único museu de Montes Claros e o maior centro de referência cultural do Norte de Minas servindo de fonte para muitos pesquisadores, escolas e admiradores.

Em 1995, ela lançava, junto com a escritora Yvonne Silveira, pela Academia Montesclarense de Letras, o livro “Montes Claros de Ontem e de Hoje”. Um rico registro da história de Montes Claros e de sua gente contendo crônicas, fotografias, fatos históricos e informações do povo montesclarense e a evolução da cidade.

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“O que se vai ler neste livro é o resumo da história de um povo. Com efeito, duas notáveis figuras de Montes Claros – as professoras Yvonne Silveira e Zezé Colares – uniram-se na tarefa de resenhar a trajetória deste “ajuntamento novo”, que resultou na maior concentração de humanos na vastidão de mil quilômetros que vai de Belo Horizonte a São Salvador, na Bahia. A 5ª cidade de Minas em População.” – Paulo Narciso, 1995.

“Zezé Colares, que nos deu tanta coisa, inclusive o Banzé, o melhor que aconteceu a Montes Claros nos últimos séculos, nos dá agora seu retrato sentido de nossa Montes Claros – presente, passado e futuro” – Darcy Ribeiro, 1995.

Após tantos trabalhos de incentivo à festivais de folclore no Brasil através da IOV e do CIOFF, havia chegado a hora de Zezé Colares promover o seu próprio festival e iniciar um rico intercâmbio cultural do povo mineiro com a cultura estrangeira. Foi em 1997 que Colares realizou o primeiro Festival Internacional de Folclore de Minas Gerais e, em 10 edições deste evento, trouxe mais de cem delegações internacionais para se apresentarem em diversas cidades do estado. O festival foi consagrado como um dos maiores do Brasil e único que alcançou todas as regiões do estado, por ser um evento itinerante em que os grupos ficavam por quinze dias apresentando-se do norte ao sul de Minas.

O terceiro álbum do Grupo Banzé foi lançado em 1998 por Zezé Colares no formato CD, trazendo em seu conteúdo mais pesquisas realizadas pelo grupo na década de 90 incluindo ritmos de outros estados brasileiros como o samba, o baião e o maracatu.

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A parceria entre Colares e Yvonne Silveira não resumiu-se em apenas uma obra. Em 1999 as duas escritoras lançavam juntas o seu segundo livro e terceiro dentre as obras de Zezé, “Folclore para Crianças”. Uma espécie de continuação e aprimoramento da primeira obra de Zezé com mais registros de lendas, histórias, contos, brincadeiras e explicações sobre nossos costumes direcionadas para o público infantil.

“Na sociedade atual a cultura é muito mais importante do que o dinheiro. Há anos venho pensando sobre este assunto e esta é uma opinião sincera, apesar de alguns amigos discordarem.” – Maria José Colares de Araújo Moreira (Zezé Colares).

Zezé Colares era considerada uma mulher a frente do seu tempo. Ela ultrapassou todos os limites impostos por uma sociedade machista e conservadora e conquistou o respeito das classes política, econômica, intelectual e artística. Inspirou mulheres não só de sua terra natal, mas de todos os lugares por onde passou. Era comum referirem-se a ela como uma pessoa que tinha luz própria, onde ela chegava se tornava o centro das atenções. Sua influência era tão grande que foi conselheira de muitos políticos. Artistas e jornalistas a procuravam no intuito de conseguirem alavancar suas carreiras. Zezé e o Banzé foram temas de muitos trabalhos acadêmicos, artigos, pesquisas e até músicas e poemas.

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Seus feitos a tornaram uma das pessoas mais admiradas em todo o Norte de Minas Gerais. Foi reconhecida pelo Jornal Hoje em Dia como uma Personalidade do Século; recebeu a mais alta comenda cedida pelo governo do estado de Minas Gerais, a Medalha de Honra da Inconfidência; foi homenageada com a Medalha Mérito Santos Dumont; Medalha Maria da Cruz; foi a primeira mulher a receber o título Insigne Benfeitor com a Medalha de Honra de Montes Claros (Medalha de Ouro Ivan José Lopes), além de várias outras medalhas e homenagens em reconhecimento ao seu trabalho em prol da comunidade e da cultura regional e foi constantemente citada por revistas e jornais como a grande dama do folclore brasileiro.

Em 2005, Colares fez a sua última viagem internacional com o Grupo Banzé. Após 35 dias em turnê na Itália participando de festivais internacionais de folclore pela Sardenha e norte do país, Zezé começa a demonstrar algumas perdas de memória recente e, nos anos seguintes, acabou sendo afastada de suas atividades pelo diagnóstico de Alzheimer. Junto com a diminuição do seu ritmo de trabalho, diminuiu também o ritmo das atividades do Banzé, do Festival de Folclore e do Museu e Centro de Tradições Mineiras.

Dalva Siqueira Rocha, seu braço direito na direção do grupo nos últimos anos, batalhou para manter os ensaios, apresentações e viagens e realizou a oitava edição do Festival Internacional de Folclore de Minas Gerais. Porém, sem a presença e o pulso firme de Zezé, o Banzé foi perdendo o seu bom funcionamento e espaço. O grupo esteve prestes a acabar e todo o trabalho de 40 anos ficaria apenas em registros históricos e lembranças de seus participantes e admiradores.

Com o afastamento da professora e folclorista, o Banzé Museu do Folclore e Centro de Tradições Mineiras UNIMONTES também perdeu a sua direção e acabou fechando as portas para o público. Hoje, grande parte do acervo adquirido por Zezé encontra-se no Museu Regional do Norte de Minas sob posse da Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES. Outra parte permanece guardada sob os cuidados do Grupo Banzé na espera da concretização de sua sede própria e um local adequado para exposição.

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A nora de Zezé Colares, Jacqueline Pimenta de Carvalho, turismóloga e produtora de eventos, já acompanhava os seus passos na produção do Festival Internacional de Folclore de Minas Gerais e outros eventos do Grupo Banzé e, em meados de 2007, assumiu a direção da companhia resgatando o trabalho e retomando as suas atividades. Sob a condução dela, o Banzé realizou mais duas turnês internacionais, duas edições do festival e retomou suas relações com as organizações internacionais de festivais folclóricos e artes populares IOV e CIOFF.   

O estado de saúde e a evolução da doença de Zezé foram levados com muita discrição por sua família, preservando ao máximo a sua intimidade e com pouquíssimas aparições em público. Era nas Festas de Agosto que Zezé era vista todos os anos pelos montesclarenses acompanhando o desfile apaixonada e entusiasmada da porta da sua casa na Camilo Prates, local de passagem obrigatória pelo cortejo folclórico. Ali ela era cumprimentada pelos amigos, mestres da cultura popular, jornalistas e admiradores. Todos os anos escutavam-se gritos apaixonados de saudação e homenagens à folclorista quando o desfile passava na porta de sua casa e então começavam: ‘Viva Zezé Colares!’

 

Os 50 anos do Grupo Banzé foi comemorado em 2018 sob a direção do neto de Zezé Colares que preside o grupo atualmente, Gustavo de Carvalho Colares Moreira. O grupo foi homenageado pelo seu aniversário dentro do Congresso Nacional em Brasília, na Assembleia Legislativa de Minas em Belo Horizonte e na Câmara Municipal de Montes Claros com a placa Alferes José Lopes de Carvalho e Zezé Colares recebeu mais um título em uma noite de homenagens do Rotary Clube, “Gente que Faz”.

Em uma grande festa dentro do Parque de Exposições José Alencar Athayde de Montes Claros, todas as gerações do Grupo Banzé encontraram-se novamente no palco e em um momento de confraternização. Na ocasião, além da grande homenagem e gratidão à Zezé Colares, foram homenageadas outras grandes mulheres que fizeram parte da diretoria do Banzé e prestaram papel fundamental no seu crescimento: Marina Helena Lorenzo Fernandez Silva, Antonieta Silva e Silvério, Magdeleine Oliffson, Dalva Siqueira Rocha, Jacqueline Pimenta de Carvalho e a cantora Selda Rodrigues Cabral.

No segundo dia de desfile das Festas de Agosto de 2019, Zezé Colares não foi mais vista na porta de sua casa ou da sacada de sua sala admirando os passantes. Algo dizia que sua frágil saúde não lhe permitia mais admirar sua grande paixão. Foi então, que o tenente e maestro da Banda de Música da 11ª Região da Polícia Militar parou o desfile na porta da casa 137 na Rua Camilo Prates e em um ato memorável fez com que os seus soldados se virassem de frente para as janelas de Zezé Colares e lhes ofereceram a música “Amo-te Muito” de João Chaves, música esta uma das preferidas de Zezé e sempre interpretada pelo Grupo Banzé. A homenagem foi emocionante e “arrepiou” todos que acompanhavam a grande festa. 

“Uma vez mais, a Festa de Agosto – repetida ano a ano há quase ou mais de 200 anos pelas ruas centrais de Montes Claros – reserva surpresas. Uma voltou a ocorrer, hoje. Quando a banda da PM, implantada nos anos 50 pelo benemérito sargento Nadir, quando a banda passava pela Rua Camilo Prates, encerrando o cortejo do Reinado de São Benedito, seus membros ordem de estacar, parar. O cortejo seguia. A banda parou no meio do quarteirão. Os músicos voltaram-se todos para um baixo muro de pedras, escuras. E passaram a tocar, sem aviso, a música que é hino da nação montesclarense, felizmente hino não oficial, a modinha Amo-te Muito. (…) Na casa de muro baixo, de pedras escuras, vindas de Grão Mogol, ali há cerca de 5 anos sua moradora resiste aos sintomas da doença da idade – o Alzheimer. Chama-se Zezé Colares, tem 89 anos, 5 filhos. É mecenas de Montes Claros. Migrou da agenda de socialite, das colunas sociais, para a benemerência cultural. A maior parte do tempo dorme, como uma bela adormecida. Serenamente, como nas histórias, estórias. Ontem, ainda ontem, foi levada para a varanda por onde passou o Reinado de Nossa Senhora, do Rosário. (…)” – Paulo Narciso, 2019.

No dia seguinte, foi a vez dos mestres e grupos da cultura popular de Montes Claros prestarem suas homenagens para a grande dama do folclore brasileiro. Durante a manhã de desfile dos cortejos, os ternos de Catopês, Marujos e Caboclinhos desviaram pela primeira vez em quase 200 anos a sua rota, pediram licença para adentrarem na residência da folclorista. O portão da casa de Zezé Colares abriu-se e deu passagem para que o ressoar dos tambores ecoassem pelas suas dependências durante o belo cortejo em sua garagem. Foi aí que o improvável aconteceu, Zezé apareceu no alto de sua varanda, sendo levada pela família para receber toda aquela forte energia em sua homenagem.

Maria José Colares de Araújo Moreira morreu no dia 02 de março de 2020 na Santa Casa de Misericórdia de Montes Claros. Seu velório aconteceu na galeria principal do Centro Cultural Hermes de Paula de Montes Claros e foi visitado por milhares de pessoas. Embora a tristeza de perder um ícone da cultura regional, a sua despedida foi alegre e emocionante. Houve música, cantoria, missa e muitas mensagens de gratidão de pessoas de toda natureza. Zezé era amiga de ricos e pobres, de pessoas de todos os gêneros e orientação sexual, seu velório foi visitado por políticos, artistas, intelectuais, mestres da cultura popular, estudantes, operários, domésticas, trabalhadores agrícolas e muitos outros que tinham no momento o mesmo sentimento para oferecê-la: Gratidão. Foi transmitido ao vivo pelas emissoras de televisão local e noticiado nos mais diversos meios de comunicação das instituições de folclore e cultura popular de todo o Brasil. O salão estava completamente tomado por coroas de flores de tantos admiradores e em seu pé descansavam as bandeiras do Grupo Folclórico Banzé, seu sexto filho e eterna paixão. Todos comentavam o quão serena e bela estava a sua feição, Zezé finalmente tinha descansado e ia embora com a certeza de ter vivido uma vida completa e deixado um legado riquíssimo para povo montesclarense. Seu corpo está enterrado no cemitério de Nosso Senhor do Bonfim de Montes Claros junto aos seus pais, irmãos e marido.

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Zezé Colares inspirou gerações, fez com que o povo sentisse orgulho de si mesmo, mostrou que folclore e culturas populares são, além de importantes, necessárias à preservação e divulgação. Uma mulher que viveu apaixonada pela vida e pelo simples fato de estar viva. Colecionou sorrisos e espalhou alegria. Zezé deu oportunidade a centenas de jovens, promoveu a interação entre as classes e o intercâmbio entre nações. Zezé viveu intensamente todas as fases de sua vida, acreditou em si própria e dedicou-se à realização de seus sonhos. Soube traçar uma linha entre tradição e inovação, respeitou e preservou a história estando sempre de braços abertos para o novo e a evolução. Ela incentivou artistas a explorarem o seu talento e usarem suas tradições como referências para trabalhos originais e cheios de personalidade. Gostava de viajar, conhecer o mundo e experimentar o diferente; apreciava o requinte e a sofisticação mas era apaixonada pela sua terra e pela simplicidade do povo sertanejo. Maria José Colares Moreira fez com que sua voz fosse escutada em todos os cantos do mundo, falou tudo o que tinha para falar, brigou pelas suas causas e ideais, abriu espaço para a valorização das artes, da cultura e da mulher. Zezé Colares Moreira foi uma luz forte e vibrante que passou pela Terra, iluminou os caminhos, fez brilhar e foi descansar em outros planos, mas deixou um legado de história e trabalho que continua vivo através do Grupo Banzé e de tantos outros que se inspiraram e se fortaleceram fazendo girar a roda gigante da diversidade e das culturas populares brasileiras. Ela se foi, mas será sempre lembrada com amor, respeito e admiração através da forma carinhosa que ficou conhecida pelas centenas de integrantes do Grupo Banzé, a Tia Zezé.

 

OBJETIVOS:

  • Homenagear em vida mestres da cultura popular, folcloristas e agentes culturais que promovem valoroso trabalho de fortalecimento das tradições populares e do folclore brasileiro.
  • Reconhecer e incentivar este tipo de trabalho que afirma a identidade original do povo brasileiro e promover a sua divulgação, bem como o de seu agente.
  • Valorizar e divulgar as nossas manifestações populares e o seu conhecimento agregado.
  • Reconhecer e imortalizar o nome de Zezé Colares pela sua trajetória de vida totalmente dedicada de forma voluntária à preservação do folclore e formação de um rico legado de transmissão destes conhecimentos para tantos outros que culminou em sua multiplicação e incentivo à vários trabalhos na área do folclore e culturas populares.

CATEGORIAS:

  • Mestres: Mestres da cultura popular que transmitem o seu conhecimento e possuem forte e reconhecida atuação em sua comunidade. Podem ser homenageados pessoas físicas artesãos, músicos, mestres de congado, folias, folguedos, danças típicas e outras manifestações populares originais, mestres de culinária típica e outros agentes das diversas culturas populares.
  • Educação: Educadores ou instituições de ensino que valorizam o folclore e as culturas locais e transmitem com respeito e seriedade para seus alunos o conhecimento popular nacional, regional ou local.
  • Pesquisa: Pesquisadores, historiadores, jornalistas, acadêmicos ou não, que possuem publicações de bons trabalhos de registros e estudo de manifestações populares.
  • Arte: Músicos, bandas, dançarinos, grupos de danças, atores, grupos de teatro, artistas plásticos, ateliers, poetas, escritores e outros que se utilizam das culturas e manifestações populares para produção de trabalhos artísticos que valorizam e divulgam o folclore brasileiro ou de alguma região específica do brasil.
  • Produção Cultural: Produtores culturais, promotores de eventos, festivais, pessoas físicas ou jurídicas que promovem eventos, feiras e espaços para divulgação de trabalhos de culturas populares e interação com o público local.

METODOLOGIA:

  • Os nomes deverão ser indicados pelas comissões estaduais filiadas a IOV e estarão disponíveis para votação popular no site desta instituição 6 meses antes da entrega do prêmio.
  • O resultado deve sair 90 dias antes da entrega do prêmio.
  • O Troféu Zezé Colares será entregue em eventos ou festivais filiados a IOV anualmente.

O PREMIO:

  • Os homenageados receberão um troféu desenvolvido pelo artista Willi de Carvalho, artista popular natural de Montes Claros com grande influência das manifestações tradicionais de Minas Gerais e um certificado emitido pala IOV.

 

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